quarta-feira, 20 de junho de 2007

Os Dois - Final, sem acabar.


Ele sonhou que estavam juntos, abraçados, sorrindo, lembrando da tal goiabeira onde o primeiro toque de lábios muito úmidos e rostos suados haviam se encontrado, após uma bela escapada da escola. E onde haviam combinado muitas peripécias. Local também que servia de esconderijo quando provocavam os pais ou a vizinhança. Entretanto, no sonho, ela o beijou e disse adeus, pois precisava voltar para sua casa e para o seu novo amor.

Ela resolveu aguardar, poderia ir até lá no dia seguinte, afinal de contas, já estava anoitecendo, e talvez não seria muito seguro ir até um lado mais afastado daquela cidade. Pensou em se deitar mas como não sentia sono, resolveu ler um livro. Contudo achou na estante uma caixinha lilás, decorada com recortes de revistas, que sabia muito bem o guardava. Há quanto tempo não revia tudo aquilo.

Ele despertou. Viu o cair da noite e simplesmente quis viver, já que estava ali. Era o momento de ver como as coisas tinham ficado. Mas não sem antes passar na casa dela outra vez. Já não importava como ou com quem ela estaria, queria apenas rever.

Ela abriu a caixinha que guardava o passado. Fotos da casinha de madeira antiga, fotos das famílias, tão amigas, reunidas. Fotos dos dois, sempre sorridentes, sempre aprontando alguma coisa, desde pequeninos. Haviam também cartas que os dois costumavam trocar, quantas palavras intensas, sinceras e passadas. Quanta inocência, quanto amor: acreditavam que eram capazes de passar por tudo, sempre juntos.

Ele voltou, uma longa caminha, sabia que chegaria na casa dela bem tarde, mas não desistiu, precisava andar, precisava ir. Foi sorrindo, cantando cantigas antigas, lembrando, sentindo, imaginando como seria o reencontro, se é que realmente aconteceria.

Ela então pegou um pequeno embrulho, que nunca tinha aberto, foi o ultimo presente, do ultimo contato dos dois. Nem uma carta, num um beijo, nem um abraço antes de partir, só brigas e um embrulho, que ela se recusara a abrir. Viu que era a hora e abriu.

Ele passou por uma floricultura, mas não era aquilo que ele queria dar a ela, não nesse momento, queria presenteá-la com palavras, que já devia ter dito, e com sua presença, que se ausentou por um tempo longo demais. Estava chegando e uma crescente emoção se espalhou por seu peito. Será que ela tinha visto o seu ultimo presente? E será que tinha entendido?

Ela ficou o que pareceu horas olhando o conteúdo do pequeno embrulho. Seus olhos encheram de lágrima. Então era aquilo? Então ele na verdade não partiu porque não a queria mais, ou porque queria esquece-la... Talvez ele a amasse... E foi o que ela mais desejou, por mais que aquilo tinha sido a tanto tempo, foi o que ela desejou.

Ele desejou que ela tivesse compreendido que o presente não era covardia, mas que era um desabafar de palavras, em uma atitude, que na época ele não conseguira proferir. Quis gritar ao mundo o que sentia, mas só conseguia sorrir, sabia que tinha que dizer tudo o que estava sentindo, como uma explosão no peito, somente pra ela.

Ela lamentou o fato de ter demorado tanto para abrir, talvez pudesse ter o alcançado no dia em que partiu, e talvez tempo algum os tivesse separado. Mas talvez... Quem sabe, o tempo tivesse sido necessário? Entretanto, como poderia revê-lo? Resolveu se arrumar para ele, onde quer que ele estivesse, queria estar bela como nunca, ele merecia essa pequena dedicação.

Ele então, finalmente após tantos anos, chegou. E ficou ali parado. Resolveu que não ia tocar, por que um interfone estaria entre os dois? Resolveu cantar uma canção, que completava os dois, que era dos dois. E cantou-a ali, no meio da rua deserta, como se só existissem os dois.

Ela estava linda e radiante, quando, não sabia como, talvez uma travessura de sua mente, ela começou a ouvir aquela canção de tanto tempo atrás, que era a canção dos dois... Como poderia? Sorriu, estranhou e sentiu um pavor aconchegante no peito... Seria possível? Não... não poderia! Ela estava realmente ouvindo isso? E ainda mais... aquela voz, talvez mais grossa, mais encorpada... Mas era a mesma voz... Ela conhecia essa voz.

Ele continuou cantando com um certo nervosismo no peito, ela estaria ouvindo? Ela gostaria de ouvir? Mas ele não parou, cantou olhando para a única sacada do segundo andar, tinha que ser a dela.

Ela quis chorar, mas de inebriante felicidade, não sabia como, mas sabia que era ele... E correu para a varanda. E então... O viu. Lindo, forte, agora um homem. Era como num sonho, era uma visão... Era grande demais para caber num peito só. A lágrima rolou. Uma paz, um abrigo e a crescente felicidade a acolheram. Ela queria ficar ali o observando para sempre, se fosse sonho não tinha como acabar.

Ele sorriu, tomado por uma alegria que ele tinha certeza que iria explodir seu peito e irradiar a cidade. Ela estava muito mais bela, enfim deixara os lindos cabelos castanhos crescer do jeito que ele sabia que combinaria com ela. Estava tão formosa, porque estava enfim uma mulher. A emoção era tamanha que não conseguiu mais cantar. Só olhava sua amada, ali parada diante dele. Trocaram olhares que disseram tudo o que sentiam. Olhares que se compreenderam, olhares que se pediam perdão, olhares que se amavam. E se viram como nunca tinham se olhado antes.

Ela quis descer, ele quis subir, e os dois deram gostosas e ansiosas gargalhadas. Ela pediu que o esperasse lá embaixo. Ao correr viu de relance no espelho o presente de seu amado e parou... Será que deveria descer usando-o? Ou será que ele iria achar que era muita pretensão? Resolveu o levar então no bolso do casaco.

Ele não conseguiu segurar a saudade e assim que se viram tão pertinho, a envolveu em seus braços, num abraço que parecia não ter fim, que parecia os afogar num momento de puro êxtase, carinho e falta. Quando se soltaram trocaram os mais fogosos e saudosos olhares. E deram as mãos.

Ela tentou lhe falar, mas ele já havia começado. Palavras que somente os dois podem saber, e que somente os dois podem sentir. Mas a certeza é que foram palavras de longos anos de espera, de saudade, de crescimento, de amor, de carinho, de paz. Uma enorme paz, porque estavam ali, se falando, e agora trocando as palavras que tanto aguardaram, os dois, trocar.

Ele e ela, os dois, se acharam, se tiveram. E ansiosos perguntaram como que iria ser, se poderiam estar juntos, e descobriram que sim, já que sempre se pertenceram. Agora estariam pra sempre juntos, apesar de qualquer coisa, saberiam superar, saberiam se ter. Sabiam das dificuldades, mas nada era maior que o amor que sentiam um pelo outro, amor que agora tinha amadurecido, criado uma forma real, e estava acompanhado de calma, confiança, entendimento, amizade. Não havia mais vaidade, nem soberba, nem orgulho. Um amor completo, verdadeiro, que jamais iria acabar, pois amor assim não tem fim.

Ele quis ter aquele embrulho que tinha dado a ela ali em suas mãos, e viu que ela pegava algo no bolso. Não pôde acreditar quando viu o que era. Lembrou-se que sua avó que tinha dado, para que ele o desse especialmente para o grande amor de sua vida, era lindo como ela merecia. Sorriu, pegou da mão dela e a beijou.

Ela percebeu, e não entendia como, ainda não tinham se beijado. Aqueles lábios que não eram como o de nenhum outro, porque ali havia amor, puro e verdadeiro. O primeiro, e o ultimo. Para ela: o único. Saberia que dali viveria um grande e esperado romance, com ele.

Ele colocou então, o lindo anel de noivado, no dedo dela, pois, era isso que os dois realmente queriam. E ficaram ali, se admirando, sonhando com o que viria, e contentes por estarem ali juntos... Tinha se passado tanto tempo.

Ela o abraçou. E eles subiram, para um outro nível, agora eram mais que um casal, porque além de dois, agora eles eram um. Um só coração, um só amor. Será que eles se casaram? Será que tiveram filhos? Será que viveram para sempre em paz? Sabe-se que a vida nos prega peças, e que às vezes fazemos escolhas erradas, mas eles agora não iriam desistir desse amor por nada. E o mesmo nada iria interferir de modo que pudesse dar um novo fim a esse amor. E o futuro? Que cada um faça o seu, já que eles tiveram o deles. Mas que aconteça. Que seja. Que venha. É preciso força, coragem, confiança, sonho, fé. E assim eles tiveram o final feliz deles, um final que ainda não acabou, mas que eles buscam com toda certeza o tal do se completar e se ter para sempre. E agora eu digo: fim, mesmo sem acabar.

3 comentários:

Unknown disse...

Não tem como não viver, sentir e compartilhar a emoção dos dois...
E,de certa forma, reacender uma chama de esperança de, em algum dia, viver também uma grande história como essa.

Anônimo disse...

1º Amei a foto;
2º Choreiii!!! (ñ faz isso comigo amiga, sou românticaaa!!);
3º Escreve a minha história tbm? rss

Nenhuma palavra explica um gde amor, mas vc, com as suas, tem o dom de expressá-lo.

Carol Guasti disse...

eu tb qro uma historia "tipo assim"!

mas a goiabeira pode ser uma praia, e o anel de noivado um all star branco!